segunda-feira, 19 de julho de 2010

“SOCIALISMO IGUALITÁRIO NÃO EXISTE NO MARXISMO”

O ESCRITOR ALEMÃO EMIL LUDWIG ENTREVISTA JOSEPH STÁLIN

“DEVOTEI MINHA VIDA À ELEVAÇÃO DA CLASSE TRABALHADORA”

Entrevista com Josef Stálin

Em 13 de dezembro de 1931, num salão do Kremlin, Josef Stálin (1878-1953), o homem-forte do regime soviético, concedeu uma entrevista ao escritor alemão Emil Ludwig (1881-1948). Desde a juventude, Stálin despontara na vida política russa graças a um impressionante currículo de serviços prestados à causa comunista. Editara o jornal Pravda (“A Verdade”), porta-voz dos bolcheviques, e marcara presença em inúmeros atos públicos e levantes. Também envolvera-se em ações clandestinas, entre elas o contrabando de literatura proibida e de armas. Tivera destaque na derrubada do absolutismo czarista e na ascensão das forças revolucionárias. Em 1922, tornara-se secretário-geral do Comitê Central do Partido Comunista. Em 1924, chegara ao poder máximo dentro e fora do Partido. Ao longo de quase três décadas de governo, “O Pai dos Povos” transformaria os ideais revolucionários comunistas em política de Estado, e a Rússia, numa potência industrial.

Do outro lado da mesa, naquele frio mês de dezembro, estava um dos escritores alemães mais conhecidos de sua época. Emil Ludwig nascera em Breslau, nas volúveis fronteiras entre a Alemanha e a Polônia. Formado em Direito e História, muito jovem mudara-se para a Suíça, onde trabalhava como jornalista. Desde 1920, contudo, ganhara fama como autor de biografias de grandes personagens históricos. Até aquele momento, lançara quatro delas: Goethe (1920), Bismarck (1922-1924), Napoleão (1925) e Michelangelo (1930). Publicaria ainda uma sobre Cleópatra (1937) e, claro, uma sobre Stálin (1942).

A relação de Ludwig com sua Alemanha natal parece nunca ter sido das melhores. Um ano após o encontro com Stálin, em 1932, ele obteria a cidadania suíça, e em 1940 emigraria para os Estados Unidos, onde chegou a escrever panfletos anti-nazistas por encomenda do governo americano.

Ao longo desta entrevista, percebe-se a firmeza de pensamento e caráter do líder soviético. As provocações de Ludwig jamais conseguem perturbá-lo. Stálin não tem dúvidas, apenas certezas. Não há ambigüidade em suas respostas, ou hesitação em suas escolhas. Com uma retórica propositalmente dura, ele faz da repetição de palavras e estruturas sintáticas a marca de sua lógica inescapável. A defesa dos interesses da classe trabalhadora, para Stálin, era uma ética que se sobrepunha a todas as outras.

O que temos aqui é, portanto, um bálsamo para revolucionários nostálgicos, um estímulo para revolucionários neófitos e um consolo para todos aqueles que já perderam a paciência com o fracasso – repetido, violento e constrangedor – das tentativas de distribuir renda sem alterar o sistema político-econômico vigente.

A ética de Stálin vai ao encontro do que está acontecendo em vários países da América Latina. Muitos de seus atuais governantes, ao invocar o interesse supremo das classes trabalhadoras, legitimam medidas que de outra forma poderiam ser pessimamente interpretadas – estatizações forçadas, quebra unilateral de contratos, concentração de poder nas mãos de um único homem e/ou de um único partido, perpetuação desse homem e/ou desse partido no poder, cerceamento das liberdades individuais e de imprensa etc. Até mesmo a corrupção, desde que feita pelo governo defensor das classes trabalhadoras, torna-se uma contingência justificável.

Se é verdade que, em nome de construir uma sociedade mais justa, a América Latina precisa superará os limites do estado de direito, da chamada “moral burguesa”, do conceito supostamente elitista e abstrato de liberdade, então seria melhor o subcontinente parar de perder tempo com suas diluições do velho espírito revolucionário. De que serve uma ética aplicada apenas pela metade? Para que o Socialismo do Século XXI, se a ética que dá ao processo transformador sua espinha dorsal vem de muito antes? Vamos beber direto da fonte!
Com vocês, Josef Stálin…



***

Ludwig: Sou muito grato pelo senhor ter podido me receber. Há trinta anos venho estudando as vidas e as realizações de personagens históricos notáveis. Creio ser um bom juiz das pessoas; mas, por outro lado, não sei nada sobre as condicionantes sócio-econômicas.

Stálin: Você está sendo modesto.

Ludwig: Não, é verdade, e por essa razão talvez faça perguntas que lhe soem estranhas. Hoje, aqui no Kremlin, vi algumas relíquias de Pedro o Grande, e a primeira pergunta que gostaria de lhe fazer é a seguinte: O senhor acredita que se possa traçar um paralelo entre a sua pessoa e Pedro o Grande? O senhor se considera um continuador do trabalho de Pedro o Grande?

Stálin: De forma alguma. Paralelos históricos são sempre arriscados. Este não tem nenhum sentido.

Ludwig: Mas, afinal de contas, Pedro o Grande fez muito pelo desenvolvimento de seu país, e para trazer a cultura ocidental até a Rússia.

Stálin: Sim, claro, Pedro o Grande fez muito para elevar a classe dos senhores de terras e desenvolver a nascente classe mercantil. Ele fez muito mesmo para criar e consolidar o Estado nacional dos senhores de terra e comerciantes. Também deve ser dito que a elevação da classe dos senhores de terra, a ajuda à nascente classe mercantil e a consolidação do Estado nacional dessas classes ocorreu às custas dos servos camponeses, cujo sangue foi sugado até a última gota.

Quanto a mim, sou apenas um pupilo de Lênin, e o objetivo de minha vida é ser um pupilo dedicado. A tarefa à qual devotei minha vida é a elevação de uma classe social diferente: a classe trabalhadora. Essa tarefa não é a consolidação de um Estado “nacional”, mas um Estado socialista, e isso significa um Estado internacional; e tudo que reforce semelhante Estado reforça toda a classe trabalhadora internacional. Se cada passo que dou enquanto cumpro o meu dever de elevar a classe trabalhadora e fortalecer o Estado socialista não fosse dirigido ao reforço e à melhoria da posição da classe trabalhadora, eu consideraria minha vida sem qualquer propósito. Então você vê que o seu paralelo não se aplica. No que se refere a Lênin e a Pedro o Grande, este último foi apenas uma gota no oceano, enquanto Lênin foi um oceano inteiro.

“O MARXISMO NUNCA NEGOU O PAPEL DOS HERÓIS”

Ludwig: O marxismo nega que o indivíduo desempenhe um papel de destaque na história. O senhor não vê uma contradição entre a concepção materialista da história e o fato de que, afinal de contas, o senhor mesmo admite o papel de destaque desempenhado por personagens históricos?

Stálin: Não, não há contradição nisso. O marxismo absolutamente não nega o papel desempenhado por indivíduos extraordinários, ou que a história seja feita por pessoas. No livro de Marx A pobreza da filosofia e em outros de seus trabalhos você encontrará dito com clareza que são as pessoas que fazem a história. Mas, é claro, elas não a fazem de acordo com sua imaginação ou porque um capricho as possuiu. Toda nova geração encontra condições definidas e pré-existentes, já prontas quando esta geração nasceu. E o valor das pessoas só existe na medida em que forem capazes de entender corretamente tais condições e desejarem alterá-las. Se falharem na compreensão que têm delas e se desejarem alterá-las de acordo com sua imaginação, terminarão como Dom Quixote. Portanto, o ponto de vista de Marx é precisamente o de que as pessoas não devem ser contrapostas às condições. São elas que fazem a história, mas elas a fazem somente na medida de seu entendimento correto das condições que já encontraram prontas, e apenas na medida em que souberem como mudar essas condições. Assim, pelo menos, é como nós bonchevistas russos entendemos Marx. E estudamos Marx há uns bons anos.

Ludwig: Há mais ou menos trinta anos, quando eu estava na universidade, muitos professores alemães que se consideravam adeptos da concepção materialista da história nos ensinavam que o marxismo nega o papel dos heróis, o papel das personalidades heróicas na história.

Stálin: Eles eram vulgarizadores do marxismo. O Marxismo nunca negou o papel dos heróis. Pelo contrário, ele admite que os heróis desempenham um papel considerável, mas com as reservas que acabo de fazer.

“INDIVÍDUOS NÃO PODEM DECIDIR”

Ludwig: Dezesseis cadeiras foram colocadas em volta da mesa junto à qual estamos sentados. No exterior é sabido, de um lado, que a União Soviética é um país no qual tudo deve ser decidido coletivamente, mas é sabido, por outro lado, que tudo é decidido por indivíduos. Quem é que realmente decide?

Stálin: Não, indivíduos não podem decidir. Decisões individuais são sempre, ou quase sempre, decisões unilaterais. Em todo colegiado, em todo corpo coletivo, há pessoas cujas opiniões devem ser ouvidas. Em todo colegiado, em todo corpo coletivo, há pessoas que podem expressar opiniões equivocadas. Pela experiência de três revoluções nós sabemos que de cada cem decisões tomadas por indivíduos, sem ser testadas ou corrigidas coletivamente, aproximadamente noventa são unilaterais. Em nosso colegiado principal, o Comitê Central de nosso Partido, que dirige todas as nossas organizações soviéticas e partidárias, há pelo menos setenta membros. Entre esses setenta membros de nosso Comitê Central estão nossos maiores líderes industriais, nossos melhores líderes cooperativos, nossos melhores gerenciadores de abastecimento, nossos melhores homens militares, nossos melhores propagandistas e agitadores, nossos melhores experts em fazendas estatais, em fazendas coletivas, em fazendas individuais camponesas, nossos melhores experts nas nações que constituem a União Soviética e em política interna. Cada um tem a oportunidade de corrigir a opinião ou a proposta individual do outro. Cada um tem a oportunidade de contribuir com sua experiência. Nesse areópago está concentrada a sabedoria de nosso Partido. Se não fosse assim, se as decisões fossem tomadas por indivíduos, haveria riscos muito sérios de erros em nosso trabalho. Mas uma vez que cada um tem a oportunidade de corrigir os erros dos indivíduos, e uma vez que estamos atentos a tais correções, chegamos a decisões que são mais ou menos corretas.

Ludwig: O senhor teve décadas de experiência em atividades ilegais. Teve de transportar ilegalmente armas, literatura e assim por diante. O senhor não acha que os inimigos do regime soviético poderiam aprender com a sua experiência e enfrentar o regime soviético com os mesmos métodos?

Stálin: Isso, é claro, é bem possível.

Ludwig: Não é essa a razão da severidade e do caráter impiedoso de seu governo no combate aos inimigos?

Stálin: Não, essa não é a razão primordial. Certos exemplos históricos poderiam ser citados. Quando os bolcheviques chegaram ao poder, eles primeiro trataram os inimigos moderadamente. Os mencheviques continuaram a existir legalmente e a publicar seu jornal. Os revolucionários socialistas também continuaram a existir legalmente e tinham o seu jornal. Até os cadetes continuaram a publicar seu jornal. Quando o general Krasnov organizou sua campanha contra-revolucionária atacando Lêningrado e caiu nosso prisioneiro, poderíamos ao menos tê-lo mantido em nosso poder, de acordo com as leis da guerra. Mas o soltamos mediante a sua “palavra de honra”. E o que aconteceu? Logo ficou claro que tal moderação apenas ajudava a minar a força do governo soviético. Erramos ao adotar tal moderação em relação aos inimigos da classe trabalhadora. Ter persistido nesse erro teria sido um crime contra a classe trabalhadora e uma traição a seus interesses. Esse engano logo ficou bastante claro. Muito cedo ficou evidente que quanto mais moderada nossa atitude em relação a nossos inimigos, maior a capacidade que tinham de resistir. Não se passou muito tempo até que os socialistas revolucionários de direita – Golz e outros – e os mencheviques de direita começassem a organizar em Leningrado uma ação contra-revolucionária dos cadetes militares, cujo resultado foi a morte de muitos dos nossos marinheiros revolucionários.

O próprio Krasnov, a quem havíamos libertado mediante a sua “palavra de honra”, organizou a Guarda Branca dos cossacos. Ele juntou suas forças a Mamontov e por dois anos promoveu uma luta armada contra o governo soviético. Muito cedo descobriu-se que por trás dos generais da Guarda Branca estavam os agentes dos estados capitalistas – França, Grã-Bretanha, América do Norte – e também o Japão. Ficamos convencidos então de que havíamos errado em mostrar moderação. Aprendemos pela experiência que a única maneira de lidar com tais inimigos era aplicar sobre eles a mais impiedosa política de repressão.

“QUANTAS REVOLTAS NESSES TREZENTOS ANOS!”

Ludwig: Parece-me que uma parte considerável da população da União Soviética vive temerosa e trêmula sob o poder soviético, e a estabilidade deste último depende, até certo ponto, do medo que inspira. Gostaria de saber como o senhor se sente diante do fato de que, no interesse do fortalecimento do regime, é necessário inspirar o medo. Afinal de contas, quando o senhor se associa com seus camaradas, seus amigos, o senhor adota métodos muito diferentes daqueles que inspiram medo. E no entanto a população tem medo.

Stálin: Você está errado. Coincidentemente, o seu erro é igual ao de muitas pessoas. Você realmente acredita que teríamos conseguido manter o poder e obter o apoio de massas imensas, por catorze anos, usando métodos de intimidação e aterrorização? Não, isso é impossível. O governo czarista superava a todos no domínio da intimidação. Teve uma longa e vasta experiência nessa área. A burguesia européia, particularmente a francesa, deu ao czarismo toda a assistência relativa ao assunto, e ensinou-o a aterrorizar o povo. No entanto, apesar desta experiência e apesar da ajuda da burguesia européia, a política de intimidação provocou a queda do czarismo.

Ludwig: Mas os Romanov se agüentaram por trezentos anos.

Stálin: Sim, mas quantas revoltas e levantes ocorreram nesses trezentos anos! Houve o levante de Stepan Razin, o levante de Yemelyan Pugachov, o levante dos dezembristas, a Revolução de 1905, a revolução de fevereiro de 1917, e a Revolução de Outubro. Isso para não dizer que as atuais condições políticas e culturais do país são radicalmente diferentes daquelas do velho regime, quando a ignorância, a falta de cultura, a submissão e a opressão política das massas permitia ao “soberanos” da época permanecer no poder por um período mais ou menos prolongado.

No que se refere ao povo, os trabalhadores e camponeses da União Soviética, eles não são absolutamente tão dóceis, tão submissos e intimidados quanto você imagina. Há muitas pessoas na Europa cujas idéias sobre o povo da União Soviética estão ultrapassadas. Elas pensam que o povo que mora na Rússia é, em primeiro lugar, submisso e, em segundo, preguiçoso.

Essa é uma noção antiquada e radicalmente errada. Ela surgiu na Europa nos dias em que os nobres rurais russos começaram a ir aos bandos até Paris, onde desperdiçavam o butim que haviam tomado e gastavam seus dias em dissipações. Esses eram realmente pessoas invertebradas e inúteis. Isso deu origem a conclusões sobre “a preguiça russa”. Mas não pode em absoluto ser aplicado aos trabalhadores e camponeses russos, que ganharam e ainda ganham a vida por meio do próprio trabalho. É realmente estranho julgar os camponeses e trabalhadores russos submissos e preguiçosos quando, em um curto período de tempo, eles fizeram três revoluções, esmagaram o czarismo e a burguesia, e estão agora triunfantemente construindo o socialismo.
Há pouco você me perguntou se tudo em nosso país era decidido por uma pessoa. Nunca sob nenhuma circunstância poderiam os nossos trabalhadores tolerar o poder nas mãos de uma pessoa. Aqui, personagens da maior autoridade ficam reduzidas a não-entidades, tornam-se meras cifras, assim que perdem a confiança das massas trabalhadoras. Plekhanov costumava gozar de um prestígio excepcionalmente grande. E o que aconteceu? Assim que ele começou a tropeçar politicamente, os trabalhadores o esqueceram. Eles o renegaram e esqueceram. Outro exemplo: Trotsky. Seu prestígio também era grande, embora, é claro, não se comparasse ao de Plekhanov. O que aconteceu? Assim que ele se afastou dos trabalhadores, eles o esqueceram.

Ludwig: Esqueceram-no completamente?

Stálin: Lembram-se dele às vezes, mas com amargura.

Ludwig: Todos com amargura?

Stálin: Do ponto de vista dos nossos trabalhadores, eles se lembram de Trotsky com amargura, com exasperação, com ódio.

Existe, é claro, uma pequena parte da população que realmente vive amedrontada diante do poder soviético, e luta contra ele. Refiro-me aos remanescentes das classes moribundas, que estão sendo eliminadas. Primeiramente, aquela parte insignificante do campesinato, os kulaks. Mas aqui não se trata meramente de uma política de intimidar esses grupos, uma política que não existe na realidade. Todo mundo sabe que nesse caso nós bolcheviques não nos limitamos à intimidação, mas vamos além, visando a eliminação desse estrato burguês.

Mas se você tomar como referência a população trabalhadora da União Soviética, os trabalhadores urbanos e os trabalhadores camponeses, que representam não menos de 40% da população, verá que eles são a favor do poder soviético e que uma vasta maioria deles apóia ativamente o regime soviético. Eles apóiam o sistema soviético porque este sistema serve aos interesses fundamentais dos trabalhadores e dos camponeses. Esta, e não uma política de pretensa intimidação, é a base da estabilidade do governo soviético.

“OS LEVANTES PRÉ-COMUNISTAS ERAM DESORGANIZADOS”

Ludwig: Sou muito grato ao senhor por essas resposta. Peço-lhe perdão se faço uma pergunta que possa lhe parecer estranha. Sua biografia contém passagens do que se poderia chamar de “roubo em estradas”. O senhor alguma vez se interessou pela personalidade de Stepan Razin? Qual é sua atitude em relação a ele como “ideólogo das estradas”?

Stálin: Nós bolcheviques sempre nos interessamos por personagens históricos como Bolotnikov, Razin, Pugachov, e assim por diante. Entendemos os atos destes indivíduos como um reflexo da indignação espontânea das classes oprimidas, da rebelião espontânea do campesinato contra a opressão feudal. O estudo da história dessas primeiras tentativas de revolta por parte do campesinato sempre nos interessaram. Mas, é claro, nenhuma analogia pode ser feita entre elas e os bolcheviques. Esporádicos levantes campesinos, mesmo quando não relativos a “roubos em estradas” e de tipos desorganizados, como no caso de Stepan Razin, não podem nos levar a qualquer realização significativa. Levantes campesinos só podem ter sucesso se combinados a levantes de trabalhadores e se forem liderados pelos trabalhadores. Apenas um levante combinado e encabeçado pela classe trabalhadora pode atingir seu objetivo.
Além do mais, nunca pode ser esquecido que Razin e Pugachov eram czaristas: eles se posicionaram contra os proprietários de terras, mas favoreciam um “bom czar”. Era justamente esta a sua palavra de ordem.
Como você pode ver, é impossível traçar qualquer analogia com os bolcheviques.

“O QUE FEZ DO SENHOR UM SOCIALISTA?”

Ludwig: Permita que eu lhe coloque algumas questões relativas a sua biografia. Quando fui ter com Masaryk ele me disse estar consciente de ser um socialista desde que tinha seis anos de idade. O que fez do senhor um socialista e quando isso ocorreu?

Stálin: Não poderia afirmar que eu já havia sido atraído pelo socialismo aos seis anos. Nem mesmo aos dez ou doze anos de idade. Juntei-me ao movimento revolucionário quando tinha quinze anos, ao fazer contato com grupos clandestinos de marxistas russos, então vivendo na Transcaucásia. Estes grupos exerceram grande influência sobre mim e levaram-me a adquirir o gosto pela literatura marxista clandestina.

Ludwig: O que o impeliu a se tornar um oposicionista? Foi, talvez, o mau tratamento recebido de seus pais?

Stálin: Não. Meus pais não tinham estudo, mas não me tratavam mal de forma alguma. Mas a coisa era diferente no seminário teológico ortodoxo que eu freqüentava. Em protesto contra o ultrajante regime e os métodos jesuíticos que nele prevaleciam, eu estava pronto para me tornar, e de fato me tornei, um revolucionário, um crente no marxismo como ensinamento revolucionário.

Ludwig: O senhor não admite que os jesuítas têm alguns acertos?

Stálin: Sim, eles são sistemáticos e perseverantes no trabalho para chegar a sórdidos fins. Mas seu método principal é a espionagem, a penetração larval na alma das pessoas, sublevando seus sentimentos. Que bem pode resultar disso? Por exemplo, a espionagem na residência dos estudantes. Às nove horas o sino toca para o chá matinal, vamos ao refeitório, e quando voltamos para nossos quartos descobrimos que durante nossa ausência uma busca foi feita e nossos baús foram saqueados… Que acerto pode haver nisso?

“EXISTE NA USSR UMA IDOLATRIA PELA AMÉRICA?”

Ludwig: Percebo que na União Soviética tudo que é americano é tido em muito alta conta, chego até a dizer que existe uma idolatria pelo que vem da América, isto é, da Terra do Dólar, o país capitalista por excelência. Este sentimento existe inclusive na sua classe trabalhadora, e se aplica não apenas a tratores e automóveis, mas também aos americanos em geral. Como o senhor explica isso?

Stálin: Você está exagerando. Não temos em conta especialmente alta tudo o que é americano, mas respeitamos a eficiência que os americanos demonstram na indústria, na literatura e na vida. Nunca nos esquecemos de que os EUA são um país capitalista. Mas entre os americanos há muitas pessoas que são mental e fisicamente saudáveis, que são saudáveis em toda a sua atitude em relação ao trabalho, ao emprego disponível. Esta eficiência, esta simplicidade, faz soar uma nota em nossos corações. Apesar de a América do Norte ser um país capitalista altamente desenvolvido, os hábitos que prevalecem na indústria, as práticas existentes nos processos produtivos, guardam em si um elemento democrático, o que não pode ser dito dos velhos países capitalistas europeus, onde o espírito esnobe da aristocracia feudal ainda sobrevive.

Ludwig: O senhor nem imagina o quão certo está.

Stálin: Talvez imagine; quem pode dizer? Embora o feudalismo como ordem social tenha sido demolido há muito na Europa, resquícios consideráveis sobrevivem nas formas de vida e nos costumes. Ainda há técnicos, especialistas, cientistas e escritores que brotaram do ambiente feudal e que carregam hábitos aristocráticos para a indústria, a tecnologia, a ciência e a literatura. As tradições feudais ainda não foram inteiramente demolidas.

Isso não pode ser dito da América, que é um país de “colonos livres”, sem senhores feudais e sem aristocratas. Daí os hábitos sãos e comparativamente simples da vida produtiva americana. Nossos homens de negócio originários da classe trabalhadora que visitaram a América notaram isso imediatamente. Eles relatam, não sem uma certa surpresa positiva, que num trabalho produtivo na América é difícil distinguir um engenheiro de um trabalhador pela aparência. Isso os agradou, é claro. Mas as coisas são muito diferentes na Europa.

Agora, se vamos falar de nossa estima por uma nação em particular, ou melhor, pela maioria de seus cidadãos, então é claro que não podemos deixar de mencionar nossa estima pelos alemães. Nossa estima pelos americanos não pode ser comparada a essa!

Ludwig: Por que exatamente a nação alemã?

Stálin: No mínimo, pelo fato de ela ter dado ao mundo homens como Marx e Engels. Isso basta para afirmar este fato como tal.

“SOMOS POLÍTICOS DE UMA TÊMPERA ESPECIAL”

Ludwig: Recentemente foi notado que certos políticos alemães têm sérios receios de que a tradicional política de amizade entre a União Soviética e a Alemanha seja forçada a um segundo plano. Tais receios surgiram em função das negociações entre a União Soviética e a Polônia. Caso o reconhecimento pela União Soviética das atuais fronteiras polonesas se confirme, como resultado dessas negociações, isso provocaria um amargo desapontamento no conjunto do povo alemão, que até agora acreditou estar a União Soviética combatendo o sistema de Versalhes, sem qualquer intenção de legitimá-lo.

Stálin: Sei que uma certa insatisfação e alarme pode ser percebido entre alguns homens públicos alemães, baseados na hipótese de que a União Soviética, em suas negociações ou em algum tratado com a Polônia, possa tomar qualquer atitude que implique, da parte da União Soviética, uma sanção, uma garantia, às possessões e fronteiras polonesas.

Na minha opinião tais receios são equivocados. Sempre declaramos nossa disposição para concluir um pacto de não-agressão com qualquer Estado. Já concluímos tais pactos com alguns países. Declaramos abertamente nossa disposição para assinar semelhante pacto com a Polônia também. Quando declaramos estar prontos para assinar um pacto de não-agressão com a Polônia, isso não é mera retórica. Isso significa que realmente queremos assinar tal pacto.

Somos políticos de uma têmpera especial, por assim dizer. Há políticos que fazem uma promessa ou uma declaração um dia, e no outro ou esquecem o assunto ou negam o que afirmaram, e fazem-no sem nem corar. Não podemos agir assim. O que quer que façamos no exterior inevitavelmente se torna sabido dentro de nosso país, sabido por todos os trabalhadores e camponeses. Se disséssemos uma coisa e fizéssemos outra, comprometeríamos nosso prestígio entre as massas populares. Assim que os poloneses declararam estar prontos para negociar um pacto de não-agressão conosco, naturalmente concordamos e abrimos as negociações.

O que, do ponto de vista alemão, é a coisa mais perigosa que pode acontecer? Uma mudança para pior em nossas relações. Mas não há qualquer base para isso. Nós, exatamente como os poloneses, devemos declarar no pacto que não usaremos a força ou recorreremos à agressão no sentido de mudar as fronteiras da Polônia ou da União Soviética, ou violaremos sua independência. Da mesma forma como fazemos tal promessa aos poloneses, também eles fazem tais promessas a nós. Sem tal cláusula, especificamente, de que não pretendemos ir à guerra com o propósito de violar a independência ou a integridade das fronteiras de nossos respectivos Estados, nenhum pacto pode ser concluído. Sem ela um pacto está fora de questão. Isso é o máximo que podemos fazer.

Isso é o reconhecimento do sistema de Versalhes? Não. Ou é, talvez, a garantia de suas fronteiras? Não. Nunca fomos avalistas da Polônia e nunca nos tornaremos tal coisa, assim como a Polônia nunca foi e nunca será uma avalista das nossas fronteiras. Nossas relações amistosas com a Alemanha continuarão sendo como sempre foram. Essa é a minha firme convicção.

Portanto, os receios de que você fala são completamente sem fundamento. Surgiram com base em rumores espalhados por alguns poloneses e franceses. Desaparecerão quando publicarmos o pacto, se a Polônia assiná-lo. Todos então verão que ele não contém nada contra a Alemanha.

“SOCIALISMO IGUALITÁRIO NÃO EXISTE NO MARXISMO”

Ludwig: Sou muito grato por esta sua afirmação. Permita-me fazer a seguinte pergunta: o senhor fala de “igualamento salarial”, dando à expressão uma conotação distintamente irônica em relação ao igualamento geral. Mas, com certeza, o igualamento geral é um ideal socialista.

Stálin: O tipo de socialismo no qual todos receberiam o mesmo pagamento, a mesma quantidade de carne e a mesma quantidade de pão, vestiriam as mesmas roupas e receberiam os mesmos artigos nas mesmas quantidades – tal socialismo é desconhecido para o marxismo.

Tudo que o marxismo diz é que até que as classes tenham sido finalmente abolidas e até que o trabalho tenha sido transformado de um meio de subsistência na necessidade básica do homem, no trabalho voluntário pela sociedade, as pessoas serão pagas por seu esforço de acordo com o trabalho executado. “De cada um de acordo com sua habilidade, para cada um de acordo com seu trabalho.” Esta é a fórmula marxista do socialismo, a fórmula para o primeiro estágio do comunismo, o primeiro estágio da sociedade comunista.

Apenas no mais alto estágio do comunismo, apenas em sua fase mais desenvolvida, é que cada um, trabalhando de acordo com a sua habilidade, será recompensado por seu trabalho de acordo com suas necessidades. “De cada um de acordo com sua habilidade, para cada um de acordo com suas necessidades.”
Está muito claro que as necessidades das pessoas variam e continuarão variando sob o socialismo. O socialismo nunca negou que as pessoas sejam diferentes em seus gostos, e na quantidade e qualidade de suas necessidades. Leia como Marx criticou Stirner por sua inclinação em direção ao igualitarismo; leia a crítica de Marx ao Gotha Programme de 1875; leia os trabalhos subseqüentes de Marx, Engels e Lênin, e você verá quão agudamente eles atacam o igualitarismo. O igualitarismo deve sua origem ao tipo de mentalidade camponesa individual, à psicologia de compartilhar e compartilhar igualmente, à psicologia do “comunismo” primitivo camponês. Igualitarismo não tem nada em comum com o marxismo socialista. Apenas as pessoas sem qualquer familiaridade com o marxismo podem ter a idéia primitiva de que os bolcheviques russos desejam juntar toda a riqueza e então dividi-la igualmente. Essa é a idéia de pessoas que não têm nada em comum com o marxismo. É assim que tais pessoas como os “comunistas” primitivos da época de Cromwell e da Revolução Francesa imaginaram o comunismo para si próprios. Mas o marxismo e os bolcheviques russos não têm nada em comum com tais “comunistas” igualitaristas.

Ludwig: O senhor está fumando um cigarro? Onde está seu legendário cachimbo, senhor Stálin? O senhor uma vez disse que palavras e legendas passam, mas que os atos permanecem. Agora acredite-me, há milhões de pessoas no exterior que não sabem de algumas de suas palavras e atos, mas que certamente sabem de seu cachimbo legendário.

Stálin: Deixei meu cachimbo em casa.

Ludwig: Agora devo fazer-lhe uma pergunta que poderá deixá-lo estupefacto.

Stálin: Nós bolcheviques russos há muito deixamos de ficar estupefactos com o que quer que seja.

Ludwig: Sim, e nós na Alemanha também.

Stálin: Sim, vocês na Alemanha em breve deixarão de ficar estupefactos.

“O SENHOR ACREDITA EM DESTINO?”

Ludwig: Minha pergunta é a seguinte: o senhor freqüentemente correu riscos e perigos. O senhor foi perseguido. O senhor tomou parte em batalhas. Muitos de seus amigos mais próximos morreram. O senhor sobreviveu. Como explica isso? O senhor acredita em destino?

Stálin: Não, eu não acredito. Bolcheviques, marxistas, não acreditam em “destino”. O próprio conceito de destino, “Schieksal”, é um preconceito, um absurdo, uma relíquia mitológica, como a mitologia dos gregos antigos, para quem o fado controlava os destinos dos homens.

Ludwig: Isso quer dizer que o fato de o senhor não ter morrido é um acidente?

Stálin: Há razões internas e externas, cujo efeito conjunto foi que eu não morri. Mas de forma completamente independente de qualquer destino, outra pessoa poderia ter estado no meu lugar, pois alguém teria de ocupá-lo. O “destino” é alguma coisa governada não por leis naturais, alguma coisa mística. Eu não acredito em misticismo. É claro, houve razões que fizeram os perigos não me atingirem. Mas poderiam ter havido inúmeras outras circunstâncias fortuitas, com outras razões, que poderiam ter levado a um resultado diretamente oposto. O assim chamado destino não tem nada a ver com isso.

“REVOLUCIONÁRIOS DE DENTRO E DE FORA”

Ludwig: Lênin passou muitos anos exilado no exterior. O senhor teve a oportunidade de ficar no exterior por um curto período. O senhor crê que isso lhe trouxe alguma vantagem? Quem o senhor acredita que contribuiu mais para a revolução – os revolucionários que viveram exilados no exterior e assim tiveram a chance de fazer um estudo completo da Europa, mas por outro lado foram privados do contato direto com o povo; ou os revolucionários que continuaram trabalhando aqui, que acompanhavam o ânimo do povo, mas por outro lado sabiam pouco da Europa?

Stálin: Lênin deve ser excluído desta comparação. Muito poucos dos que ficaram na Rússia estavam tão intimamente conectados quanto Lênin ao verdadeiro estado das coisas e ao movimento operário no país, embora ele tenha passado um longo tempo no exterior. Sempre que eu ia visitá-lo no exterior – em 1906, 1907, 1912 e 1913 – via pilhas de cartas que ele recebera de trabalhadores russos ligados ao Partido, e estava sempre melhor informado que os que permaneceram na Rússia. Ele sempre considerava sua temporada no exterior como um fardo. O número de camaradas em nosso Partido e em sua liderança que ficaram na Rússia, que não foram para o exterior, é muito maior do que o de ex-exilados, e eles, é claro, foram capazes de uma contribuição muito maior do que os que foram exilados no exterior. Na verdade, poucos ex-exilados restam em nosso Partido. Eles talvez somem cem ou duzentos entre dois milhões de membros do Partido. Dos setenta membros do Comitê Central, pouco mais de três ou quatro foram exilados no exterior.

Quanto ao conhecimento da Europa, o estudo da Europa, aqueles que desejaram fazer tal estudo tiveram, é claro, mais oportunidades de fazê-lo enquanto moravam lá. Nesse aspecto aqueles de nós que não moraram fora perderam alguma coisa. Mas morar fora de maneira alguma é um fator decisivo no estudo das economias européias, de sua técnica, das categorias e tendências do movimento e da literatura trabalhistas, apesar da falsa impressão dos textos científicos. Embora se possa chegar ao mesmo ponto por outros meios, é claro que é mais fácil estudar a Europa estando lá. Mas a desvantagem daqueles que não moraram na Europa não tem grande importância. Pelo contrário, sei de camaradas que moraram fora vinte anos, viveram em algum lugar de Charlottenburg ou no Quartier Latin, passaram anos em cafés bebendo cerveja e não lograram alcançar o conhecimento da Europa, fracassando em entendê-la.

“A AMBIÇÃO ATRASA O GRANDE PERSONAGEM HISTÓRICO”

Ludwig: O senhor não acha que entre os alemães, como nação, o amor pela ordem é mais desenvolvido que o amor pela liberdade?

Stálin: Houve um tempo em que as pessoas na Alemanha realmente demonstraram um grande respeito pela lei. Em 1907, quando aconteceu de eu passar dois ou três meses em Berlim, nós bolcheviques russos freqüentemente achávamos graça de alguns de nossos amigos alemães devido a seu respeito pela lei. Circulava uma história, por exemplo, sobre uma ocasião em que o Comitê-Executivo do Partido Social Democrata de Berlim fixou dia e hora definidos para uma manifestação à qual deveriam comparecer os membros de todas as organizações dos subúrbios. Um grupo de duzentos homens vindos de um dos subúrbios chegou ao centro da cidade pontualmente na hora marcada, mas não conseguiram chegar na manifestação, pois passaram duas horas esperando, na saída da plataforma da estação, o coletor de bilhetes que havia faltado, e não apareceu ninguém para quem pudessem entregar seus bilhetes usados. Costumava-se dizer, como um chiste, que era preciso um camarada russo para ensinar aos alemães um jeito simples de sair do dilema: deixar a plataforma sem entregar os bilhetes…

Mas há alguma coisa parecida na Alemanha agora? Há respeito pela lei na Alemanha hoje em dia? O que dizer dos Nacional-Socialistas, que supostamente deveriam ser os primeiros a proteger a legalidade burguesa? Eles não desobedecem as leis, destroem os clubes de trabalhadores e assassinam trabalhadores impunemente? Nem menciono os trabalhadores que, me parece, há muito perderam qualquer respeito pela legalidade burguesa. Sim, os alemães mudaram muito nos últimos tempos.

Ludwig: Sob que condições seria possível unir a classe trabalhadora decisiva e completamente sob a liderança de um único partido? Por que tal união da classe trabalhadora é possível apenas após a revolução proletária, como afirmam os comunistas?

Stálin: Tal união da classe trabalhadora em torno do Partido Comunista é mais facilmente realizável se resultar de uma revolução proletária vitoriosa. Mas na essência, certamente, ela será atingida até mesmo antes da revolução.

Ludwig: A ambição estimula ou atrasa um grande personagem histórico em suas atividades?

Stálin: O papel desempenhado pela ambição varia sob condições diferentes. A ambição pode ser um estímulo ou um atraso para as atividades do grande personagem histórico. Mais freqüentemente é um atraso.

Ludwig: A Revolução de Outubro é, de alguma forma, uma continuação da Revolução Francesa?

Stálin: A Revolução de Outubro não é nem a continuação e nem a culminância da Revolução Francesa. O objetivo da Revolução Francesa era abolir o feudalismo para implantar o capitalismo. O objetivo da Revolução de Outubro, entretanto, é abolir o capitalismo para implantar o socialismo.

Esta entrevista foi publicada originalmente na revista Bolshevik, 30 de abril, 1932, no 8. A primeira edição em livro está em: Works, J.V. Stálin. Foreign Language Publishing House, Moscou, 1955, volume 13, pp. 106-25.

Pedro Alexeiévitch Romanov: nasceu em 90/06/1672, em Moscou, filho do czar Alexis I (1645-1676). Ascendeu ao trono com apenas dez anos de idade, e seu reinado caracterizou-se pela modenização da Rússia aos moldes ocidentais. Da Europa ele importou novas regras administrativas, manufaturas, conhecimentos técnico-científicos e militares. Constituiu o império russo, em 1721, que teve como símbolo máximo uma nova cidade, São Petersburgo, fundada em 1703. Morreu em 1725.

A pobreza da filosofia: livro escrito e publicado em 1847, como resposta à obra do anarquista francês Pierre-Joseph Proudhon (1809-1865), que saíra um ano antes, intitulada Sistema das contradições econômicas ou A filosofia da miséria. A polêmica entre eles dizia respeito a conceitos fundamentais da teoria marxista, como o trabalho e a mais-valia, entre outros. No prefácio à primeira edição de seu livro, Marx escreveu: “Na França, ele [Proudhon] tem o direito de ser um mau economista, pois goza de boa reputação como filósofo alemão. Na Alemanha, ele tem o direito de ser um mau filósofo, pois goza de boa reputação como um dos mais capazes economistas franceses. Sendo ao mesmo tempo alemão e economista, gostaríamos de protestar contra esse duplo equívoco”.

Três revoluções: a Revolução de 1905 foi composta por inúmeros levantes envolvendo operários, camponeses, soldados e marinheiros (a revolta do encouraçado Potenkim, entre elas). Pode ser explicada, ao menos em parte, pela derrota da Rússia na guerra contra o Japão, terminada em 1904 e que trouxera um período de dificuldades socio-econômicas. Para contornar a revolução, o czar Nicolau II (1868-1918), no Manifesto de Outubro, acenou com um governo constitucional e o fim do absolutismo. Mas era uma armadilha. Quando os revoltosos se desmobilizaram, seus líderes foram presos e as promessas, em sua essência, esquecidas. Segundo Vladímir Lênin (1870-1924), a Revolução de 1905 foi um “ensaio geral”.

A Revolução de Fevereiro de 1917, a chamada Revolução Branca, também veio em decorrência dos prejuízos e crises de abastecimento causados pelo envolvimento russo em um conflito, a I Guerra Mundial. Novamente uma onda de insatisfação se levantou em toda a Rússia. Em 15/03/1917, o czar foi deposto pelo conjunto das forças de oposição (liberais e socialistas de variados matizes). Um Governo Provisório foi então formado. Parte de seus quadros vinha do antigo parlamento, a Duma; outra, do órgão que congregava trabalhadores, soldados e militantes socialistas das várias correntes, o Comitê Central do Soviete de Petrogrado (São Petersburgo fora rebatizada em 1914, devido à I Guerra Mundial, para eliminar o sufixo “burgo”, de origem germânica e, portanto, inimiga).

A Revolução de Outubro de 1917, ou Revolução Vermelha, teve início no dia 25 (no calendário russo, ou juliano, e 7 de novembro pelo calendário gregoriano), quando os bolcheviques cercaram Petrogrado, insatisfeitos com a moderação do governo parlamentar instaurado em fevereiro, e ajudados por anarquistas e socialistas revolucionários. O Soviete de Petrogrado manifestou-se favoravelmente aos bolcheviques, mas rachou quando seu Conselho Executivo convocou todos a se oporem à nova revolução. Aos poucos, porém, o lema “Todo o poder aos sovietes” foi se concretizando na maior parte das províncias de etnia russa. Com o Decreto sobre o controle operário, de 03/11/1917, que instituía a auto-gestão em todas as empresa com cinco ou mais trabalhadores, os bolcheviques conquistaram de vez o apoio da classe operária e o domínio da situação política. Mas a volta da democracia tal qual ela era conhecida não favorecia as profundas reformas que iam sendo implementadas. A esperada realização de uma Assembléia Constituinte foi se tornando cada vez mais improvável e, em 05/01/1918, uma manifestação a favor da nova constituição foi dissolvida à força pelas tropas leais ao governo bolchevique. Tinha início a Guerra Civil Russa (1918-1921). Dela saíram vitoriosos os bolcheviques, e assim estava garantida a perpetuação do regime comunista. Em dezembro de 1922, foi criada a União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS), cujo órgão máximo, o Soviete Supremo, era formado por representantes de suas inúmeras províncias. O Soviete elegeria um Comitê-Executivo (Presidium), dirigido por um presidente, a quem estavam reservadas as funções de chefe de Estado. Paralelamente a essa estrutura, havia o Partido Comunista, que controlava em boa dose o poder real na URSS, escolhendo as novas elites que ocupariam os postos no governo, controlando os órgãos estatais, estimulando a atividade de seus membros e monitorando sua lealdade à causa trabalhadora.

Mencheviques: corrente política surgida em 1903, durante o II Congresso do Partido Operário Social-Democrata da Rússia. Assim como o marxismo legal, o oportunismo e o bernsteinianismo, o menchevismo endossava a doutrina marxista da substituição inevitável do feudalismo pelo capitalismo, mas refutava a ditadura do proletariado, propondo uma política de conciliação de classes que, mediante reformas, melhoraria as condições dos trabalhadores. Algumas dessas correntes pregavam a manutenção da democracia liberal, outras, uma transição pacífica para o socialismo. Os mencheviques tiveram seu melhor momento com a Revolução de Fevereiro de 1917, quando se formou o Governo Provisório. No Comitê Executivo do Soviete de Petrogrado, mencheviques e grupos menos radicais aceitavam participar do novo governo liberal, enquanto os bolcheviques continuavam intensificando a pregação revolucionária. Foi então que, para enfatizar sua recusa ao socialismo moderado e parlamentar, os bolcheviques assumiram o nome de Partido Comunista. A Revolução de Outubro derrubaria o Governo Provisório e, com o tempo, poria fim ao projeto político menchevique.

Antes da Revolução de Outubro, o Partido Constitucional Democrata, também chamado o Partido dos Cadetes, embora desejasse reformas no sistema político-econômico russo, tinha uma orientação liberal e limitava-se a pressionar o governo czarista. Depois dela, tornou-se opositor ferrenho do governo comunista.
Pyotr Nikolayevitch Krasnov: nasceu em 22/09/1869, em São Petersburgo. Descendente de uma linhagem de soldados, desde cedo seguiu a carreira militar. Lutou na I Guerra Mundial e, durante a Revolução de Outubro de 1917, liderou o exército enviado a Petrogrado pelo Governo Provisório para sufocar as forças comunistas. Derrotado e preso, prometeu abandonar a luta. Uma vez solto, arregimentou tropas e, com apoio alemão, expulsou os bolcheviques da região do rio Don. Em 1918, foi novamente derrotado. Em 1919, perdeu o comando sobre o exército contra-revolucionário e retirou-se para a Alemanha. Lá continuou suas atividades anti-comunistas, que incluíram a fundação de uma irmandade e, durante a II Guerra Mundial, uma tentativa de aliança com os nazistas para derrubar o regime stalinista. Krasnov rendeu-se ao exército inglês em 1944, sob a condição de não ser entregue aos soviéticos. Mas isso acabou acontecendo, em 1945. Recebendo a pena de morte por enforcamento, foi executado em 17/01/1947.

Guarda Branca: o Movimento Branco, cujo braço militar ficou conhecido como Exército Branco, ou Guarda Branca, aglutinava forças políticas e militares contrárias ao poder comunista. Durante a Guerra Civil Russa (1918-1921), que se seguiu à Revolução de Outubro, lutou contra as forças bolcheviques, o chamado Exército Vermelho. O lema da Guarda Branca era “Para Moscou!”.

Cossacos: populações que habitavam as estepes russas. Provavelmente de origem eslava, eram habilidosos HYPERLINK “http://pt.wikipedia.org/wiki/Cavaleiro” \o “Cavaleiro” cavaleiros e tomaram parte em muitas das rebeliões populares ocorridas na Rússia desde o século XVII. Em sua maioria, posicionaram-se contra os bolcheviques.

Mamontov: general da Guarda Branca, de origem cossaca e antigo membro da nobreza rural, que liderou, durante a Guerra Civil Russa, um pequeno exército de 800 cossacos, chamado exército do Don, atuante nas proximidades do rio de mesmo nome. Mamontov promoveu ataques sanguinários a inúmeras cidades e vilas da região, a estações postais, telegráficas e às redes ferroviárias. Segundo Trótski, que foi enviado para liderar a perseguição ao general rebelde, seus homens eram bandidos, e “A tarefa de Mamontov é aterrorizar a população trabalhadora e ajudar (…) no estrangulamento dos trabalhadores e camponeses para reestabelecer o poder de nobres e capitalistas”. Em uma resolução do Politburo, órgão executivo do Partido Comunista, assinada por Lênin em agosto de 1919, qualquer um que ajudasse Mamontov, ou se recusasse a cooperar com o Exército Vermelho, deveria ser “fuzilado sumariamente”. “As cobras contra-revolucionárias”, como Lênin se referia ao exército do Don, foram esmagadas entre outubro e novembro de 1919.

Stálin realmente aprendeu a não hesitar quando se tratava de defender os interesses da classe trabalhadora. Os números oficiais do governo russo, abertos no fim da década de 80, registram 800 mil execuções, 1,7 milhão de mortos por fome e privações e 389 mil mortos entre as populações reassentadas à força. Vários grupos étnicos – ucranianos, poloneses, coreanos, alemães, tchecos, lituanos, armênios, búlgaros, gregos, finlandeses e judeus, entre outros – foram completa ou parcialmente deportados, freqüentemente em caminhões de gado, onde morriam devido aos maus tratos. Alguns historiadores trabalham com números ainda mais escabrosos: 1,5 milhão de execuções; 5 milhões de mortos por fome e privações; 1,7 milhão de cidadãos mortos ao serem deportados; 1 milhão de mortos entre prisioneiros civis. As fontes oficiais assumem, portanto, aproximadamente 3 milhões de mortos, enquanto os historiadores falam de 9 milhões de mortos.

Stepan Razin: nasceu em 1630 e foi um dos maiores líderes cossacos de todos os tempos. Suas aventuras incluíram uma expedição militar à costa da Pérsia, em 1669, e, no ano seguinte, uma grande revolta contra a nobreza e a burocracia no império czarista, quando chegou a instituir uma república cossaca na região de Astrakhan. Derrotado pelo exército russo em 1671, foi torturado e esquartejado em Moscou.

Yemelyan Ivánovich Pugachov: nasceu em 1740, filho de um pequeno proprietário de terras cossaco na região do rio Don. Integrando o contingente cossaco a serviço do czar, tomou parte de várias campanhas militares, entre elas a expedição militar contra a Prússia de 1758, e a primeira guerra contra a Turquia, iniciada em 1768. Desertando do exército imperial após 1770, vagou durante anos. Em 1773, alegou ser o czar Pedro III (1728-1762) – que fora destronado e secretamente executado pela própria esposa, Catarina II (1729-1796) –, e iniciou uma intensa atividade de propaganda contra a czarina e a favor de reformas. Arregimentando um exército próprio, chegou a conquistar parte da região entre o rio Volga e os montes Urais. Em 14/09/1774, viu-se traído por seus próprios soldados cossacos. Entregue às tropas czaristas, Pugachov foi enviado a Moscou numa jaula e esquartejado em praça pública.

Levante do dezembristas: nome dado à revolta armada ocorrida em 14/12/1825, liderada pelo general Sergei Volkonsky (1788-1865) e desencadeada pelo fato de o czar Alexandre I (1777-1825), ao morrer, não ter deixado herdeiros. Pela ordem dinástica, assumiria o trono seu irmão, Constantino. Este, contudo, abdicara de seu direito em favor do príncipe Nicolau (1796-1855), que era extremamente impopular. Em seu manifesto, os dezembristas revindicavam: abolição da autocracia, formação de um governo provisório, liberdade de imprensa, tolerância religiosa, abolição do sistema feudal de privilégios, reformas judiciárias, possibilidades iguais de acesso aos cargos militares e eclesiásticos, fim do recrutamento militar forçado, implantação de um modelo federalista para a administração do império, eleição de um novo parlamento. O Czar de Ferro, epíteto pelo qual Nicolau I ficaria conhecido, mostrou-se inclemente com os dezembristas.

Gueórgui Valentinovitch Plekhánov: nasceu em Gudalovka, na Rússia, em 26/11/1857. Foi líder operário e primeiro propagandista do marxismo na Rússia. Fundou o grupo Emancipação do Trabalho, em 1883. Considerava impossível derrubar o regime czarista e estabelecer comunas camponesas. Alertava, sobretudo, para que, mesmo tendo sucesso, a revolução fatalmente resultaria num regime tão autoritário quanto o czarista. Aliou-se aos mencheviques em 1903, mas logo foi considerado um “derrotista” inclusive pelos moderados. Publicou livros, entre os quais Socialismo e luta política (1883) e Nossas diferenças (1884). Morreu em 1918.

Lev Davidóvitch Trótski: nasceu em Ianovka, na Ucrânia, em 07/11/1879. Filho de um lavrador de sobrenome Bronstein. Desde cedo contrário ao regime czarista, em 1896 tomou contato com o marxismo e iniciou suas atividades políticas. Anos depois, para fugir de um exílio forçado na Sibéria, trocou seu sobrenome pelo de um guarda prisional chamado Trótski. Entre bolcheviques e mencheviques, adotou inicialmente uma postura independente. Mais tarde, desenvolveu a teoria da Revolução Permanente, segundo a qual a revolução liberal-burguesa dos mencheviques não se deteria na constituição de uma república democrática, mas avançaria para a revolução socialista num processo contínuo. A Revolução Permanente compreendia também o desejo de internacionalização da revolução. Advogava para a Rússia uma industrialização rápida e pesada, com grande planejamento econômico e amparada por um “exército de trabalhadores”. Após a tomada de poder pelos bolcheviques, foi Comissário das Relações Exteriores, negociando até certo ponto o tratado de Brest-Litovsk, de 03/03/1918, no qual o governo comunista reconheceria sua derrota na HYPERLINK “http://pt.wikipedia.org/wiki/Primeira_Guerra_Mundial” \o “Primeira Guerra Mundial” I Guerra Mundial e faria concessões às potências vencedoras ( HYPERLINK “http://pt.wikipedia.org/wiki/Imp%C3%A9rio_Alem%C3%A3o” \o “Império Alemão” Império Alemão, HYPERLINK “http://pt.wikipedia.org/wiki/Imp%C3%A9rio_Austro-H%C3%BAngaro” \o “Império Austro-Húngaro” Império Austro-Húngaro, HYPERLINK “http://pt.wikipedia.org/wiki/Bulg%C3%A1ria” \o “Bulgária” Bulgária e HYPERLINK “http://pt.wikipedia.org/wiki/Imp%C3%A9rio_Otomano” \o “Império Otomano” Império Otomano). Trótski foi também Comissário da Guerra, e revelou-se um formidável líder militar, reformulando e profissionalizando o exército russo. Obteve vitórias importantes na defesa do governo revolucionário. Derrotado no interior do partido comunista por Stálin, foi para o exílio no México, onde um enviado do governo soviético assassinou-o em 21/08/1940. Em seu livro A revolução traída, de 1936, considerava a URSS um Estado degenerado, pois controlado por uma burocracia não-democrática, que derivara da própria classe trabalhadora num processo a que chamou de “degenerescência burocrática”.
Kulaks: burguesia rural, que usava sistematicamente em suas fazendas o trabalho assalariado. Desenvolveu-se na Rússia após a Reforma Camponesa de 1861, e apoiava o regime czarista. Depois da Revolução de Outubro, fez oposição ao regime comunista. A partir do final da década de 1920, com a coletivização forçada das terras e da produção agrícola, a classe dos kulaks foi programaticamente destruída por Stálin. Seus membros, em especial os grandes produtores de grãos, foram deportados para campos de concentração ou executados. Antes, porém, os kulaks e seus camponeses preferiam consumir ou destruir a produção. Por volta de 1936, 90% da agricultura russa já estava coletivizada. A produção era baixa e houve uma crise de fome no campo, pois os grãos produzidos eram direcionados pelo governo para os trabalhadores urbanos e o exército. Em 1988, o governo Gorbatchov admitiu oficialmente que a fome foi parcialmente intencional, tendo sido usada por Stálin como forma de “coerção e controle social”.

Ivan Isayevitch Bolotnikov: servo fugitivo que, após aventuras que o levaram da Criméia à Veneza, da convivência com os cossacos até as galés da Turquia, voltou para a Rússia disposto a vingar a morte e levar adiante as reformas iniciadas pelo czar Dmitri Ivánovitch, ou “Falso Dmitri”, cujo governo durara apenas dez meses (entre julho 1605 e maio 1606), terminando com seu assassinato num complô cujo líder chamava-se HYPERLINK “http://en.wikipedia.org/wiki/Vasili_IV_of_Russia” \o “Vasili IV of Russia” Vasily Shuisky (1552-1612), que o sucedeu no trono. As tropas de Bolotnikov eram formadas por servos, camponeses livres, cossacos e muitas outras categorias sociais, inclusive vários membros da nobreza. Seus objetivos incluíam, essencialmente, diminuir as agruras da servidão e obter a tolerância religiosa. A revolta durou de 1606 a 1607, chegando a controlar setenta cidades do sudoeste e do sul da Rússia, além de parte da bacia do rio Volga. Em 1607, Bolotnikov foi capturado pelas tropas czaristas em Tula. Em 1608, foi cegado e afogado.
Tomás Garrigue Masaryk: nasceu em 07/03/1850, homem público tcheco, sociólogo e filósofo. Racionalista e humanista, era crítico da filosofia idealista alemã e do marxismo. Um dos mais ardorosos defensores da independência da Tchecoslováquia durante a I Guerra Mundial, foi reconhecido pelos Aliados como chefe do governo provisório tcheco após a derrota do Império Austro-Húngaro, em 1918. Extremamente popular, ele venceria três eleições seguidas, ficando no poder até 1935, quando renunciou por questões de saúde. Morreu em 1937.

Transcaucásia: o Cáucaso é uma região da Europa Oriental, que inclui a cordilheira de mesmo nome e as planícies adjacentes, constituindo uma espécie de fronteira natural entre a Europa e a Ásia. A Transcaucásia, atualmente, compreende as repúblicas da Armênia, Geórgia e Azerbaijão. Por duas ocasiões, ao longo da história, a região esteve unida sob um único Estado. Durante a Guerra Civil Russa, quando se formou a Federação Transcaucasiana, que durou de abril a maio de 1918; e, entre 1922 e 1939, quando ganhou forma a República Socialista Federada Soviética Transcaucasiana.

Stálin nasceu em Gori, na Geórgia, filho de um sapateiro com uma costureira. Teve uma infância de extrema pobreza.

Por desejo da mãe, que desejava fazer dele um seminarista, Stálin freqüentou o colégio religioso de Tbilisi, capital da Geórgia.

Negociações entre URSS e Polônia: A União Soviética assinou vários tratados naquela virada da década de 20 para a de 30. Em 1929, um tratado de neutralidade com a Turquia; em 1931, um tratado de amizade com a Polônia; em 1932, um pacto de não-agressão com a Finlândia; em 1932, novamente com a Polônia, um pacto de não-agressão. Toda a atividade diplomática européia da época explica-se a partir de dois eixos: a ascensão de Hitler na Alemanha e o potencial expansionista do comunismo e da Revolução Russa. Tais fatores certamente afetavam as relações entre os dois países. Em 1939, contudo, Rússia e Alemanha assinariam um pacto de não-agressão. As democracias ocidentais, que por um bom tempo haviam permitido o avanço nazista como forma de conter a expansão soviética, seriam pegas de surpresa. Estavam dadas as condições para que a Alemanha pudesse invadir a Polônia sem se preocupar com sua fronteira oriental. Tinha início a II Guerra Mundial, durante a qual muitos desses pactos seriam solenemente desrespeitados.

Dez anos depois dessa entrevista, precisamente em 22 de junho de 1941 o exército alemão, então mais bem treinado e equipado, invadiu o território soviético. Durante quatro anos, o chamado front oriental foi palco das mais ferozes batalhas da II Guerra Mundial. Milhões de russos morreram. Ainda assim, o Exército Vermelho demonstrou excepcional tenacidade e capacidade de reorganização. A URSS foi a única nação capaz de expulsar os invasores alemães de seu território.

Max Stirner: pseudônimo de Johann Kaspar Schmidt (Stirner, em alemão, pode significar “Testa Grande”). Escritor e filósofo alemão nascido em 25/10/1806, autor de uma única obra, intitulada O único e sua propriedade, publicada em 1844, e colaborador, no ano seguinte, juntamente com Karl Marx, no Diário do Reno. Em sua obra, Stirner faz uma crítica anti-autoritária e individualista da sociedade contemporânea e sua modernidade. Segundo ele, o ego humano é uma entidade incapaz de criar além da linguagem e da realidade. Portanto, todas as religiões e ideologias (o marxismo inclusive) estariam assentadas em conceitos vazios, que revelariam sua invalidade após corroídos pelos interesses pessoais e egoístas dos indivíduos. Apesar de incluir o anarquismo em sua lista de ideologias impraticáveis, o rótulo encontrado pela ciência política para sintetizar o pensamento de Stirner foi “anarquismo individualista”.

Crítica ao Gotha Programme: documento baseado numa carta escrita por Karl Marx, em início de maio de 1875, e enviada a alguns colegas do movimento social-democrata alemão, no qual militava. Gotha é o nome da cidade onde um congresso dos social-democratas iria se realizar. O Gotha Programme havia sido enviado a Marx para que ele o comentasse, e deveria servir de base para a formação do Partido Social-Democrata. As impressões de Marx, no entanto, não foram positivas. Ele julgou o programa excessivamente influenciado pelas idéias do socialista Ferdinan Lassalle (1825-1864) e, como resposta, fez por carta talvez seu mais detalhado pronunciamento sobre temas programáticos de estratégia revolucionária. Além de discutir a ditadura do proletariado, o período de transição do capitalismo para o comunismo, o internacionalismo proletário e o partido da classe trabalhadora, foi justamente na Crítica que Marx firmou o princípio “De cada um de acordo com sua habilidade, para cada um de acordo com sua necessidade”. Apesar de suas críticas, o congresso se realizou e o Gotha Programme foi aceito com mínimas alterações.

Comunistas Igualitaristas: quando fala de comunistas primitivos/igualitaristas nos eventos que acompanharam a Guerra Civil Inglesa (1642-1651) e a ascensão de Oliver Cromwell (1599-1658) ao poder, Stálin deve estar se referindo aos niveladores, ou levellers. Este formavam um grupo destituído de laços formais, que não constituíam um partido ou facção política propriamente dita, estando antes disseminados na população de Londres e em alguns regimentos do exército revolucionário, mas que, grosso modo, pautavam-se por um manifesto no qual defendiam: liberdade religiosa, iguais direitos de representação e igualdade perante a lei. Uma carta de 1647, em que foi registrada a primeira menção ao grupo, dizia: “Deram-se um novo nome, qual seja, niveladores, pois pretendem endireitar todas as coisas e construir uma paridade e uma comunidade no reino”.

No contexto da Revolução Francesa, Stálin deve estar referindo-se a Graco Babeuf (1760-1797) e seus seguidores, que, em 1797, tramaram um golpe de Estado para proclamar a “República dos Iguais”, fundada nos seguintes preceitos: 1) a natureza deu aos homens o direito de usufruir de seus bens, e o propósito da sociedade é defender essa igualdade; 2) todos devem trabalhar e todo o trabalho e seus frutos devem ser um bem comum; 3) ninguém pode se apropriar dos frutos da terra ou da indústria apenas para si; 4) numa verdadeira sociedade não pode haver pobres ou ricos; 5) a educação deve ser igual a todos; 6) o objetivo da revolução é destruir a desigualdade e reestabelecer o bem-estar coletivo.

Cachimbo de Stálin: uma antiga piada, cochichada entre pessoas de confiança na Rússia da década de 50, dizia que, numa manhã desagradável, o camarada Stálin percebeu que seu cachimbo favorito havia sumido. Ele então chamou o lacaio Lavrenti Beria (1899-1953) e pediu-lhe que encontrasse o precioso objeto. Poucas horas depois, o próprio Stálin encontrou o cachimbo em sua mesa e ordenou ao lacaio que interrompesse a busca. “Mas, camarada Stálin”, gaguejou Beria, “cinco suspeitos já confessaram o roubo”.
Para um quadro de Stálin fumando o cachimbo, ver: HYPERLINK “http://www.dictatorofthemonth.com/Stalin/stalin_smoking.jpg” http://www.dictatorofthemonth.com/Stalin/stalin_smoking.jpg
Chalottenburg: localidade alemã na qual os primeiros assentamentos datam da Idade Média. A partir do século XVII abrigou um importante castelo, em torno do qual formou-se uma cidade independente, ambos chamados Charlottenburg. Mais tarde, em 1920, Charlottenburg foi incorporada à região metropolitana de Berlim.

Quartier Latin: região entre o 5º e o 6º arrondissements parisienses, na margem esquerda do rio Sena, em torno da Universidade Sorbonne. Seu nome deriva do fato de que, na Idade Média, o latim era comumente falado nos arredores da universidade. Mais recentemente, tornou-se conhecido como um núcleo boêmio e artístico.

Partido Social-Democrata da Alemanha: fundado em 1875, com base no Gotha Programme, era filiado à Internacional Socialista, e foi impiedosamente perseguido durante o Terceiro Reich (1933-1945). Após a II Guerra Mundial, foi obrigado pelas forças de ocupação soviéticas, na antiga Alemanha oriental, a confundir-se com os comunistas.

Partido Nacional-Socialista Alemão dos Trabalhadores: o partido nazista foi oficialmente batizado em 24/02/1920 e durou até o fim da II Guerra Mundial, quando foi declarado extinto pelas vitoriosas forças aliadas. Desde 1921 foi chefiado por Adolf Hitler (1889-1945), que nesse mesmo ano fundou a Sturmabteilung (Seção de Assalto), cuja função era nominalmente garantir a segurança dos membros do partido, mas que, na prática, promovia a expansão do partido por meio de intimidações e ataques violentos a outros grupos políticos, entre eles os socialistas e comunistas. Portanto, segundo a lógica de Stálin, os nazistas deveriam ser protetores da legalidade burguesa. Em 1933, ano em que chegaram ao poder, aliados às forças conservadoras, os nazistas imputaram o incêndio ocorrido no parlamento aos comunistas, usando-o como desculpa para que os escritórios do Partido Comunista Alemão fossem fechados, sua imprensa, banida e seus líderes, encarcerados. Em 1936, a Alemanha assinou com o Japão o pacto Anti-Komintern, que se opunha à Internacional Comunista, a organização internacional fundada por Lênin e pelo PC soviético em março de 1919, cujo objetivo era lutar “por todos os meios disponíveis, inclusive armados, para derrubar a burguesia internacional e estabelecer uma República Soviética internacional, como um passo transitório à completa abolição do Estado”. Mais tarde aderiram ao pacto anti-comunista a Itália, a Espanha, a Hungria e a Manchúria. Era uma espécie de barreira política à expansão da ideologia e do poder bolcheviques

Nenhum comentário:

Postar um comentário