segunda-feira, 19 de julho de 2010

De expurgos e surpresas
Trechos extraídos do livro “Missão em Moscou”, do embaixador
americano na URSS (1936-1938) Joseph E. Davies, págs. ...
1. Passando por Chicago, a caminho de casa, no início de junho, fui convidado pela minha antiga universidade para falar no Clube Universitário, em acordo com as sociedades de Wisconsin. Fazia três dias que Hitler invadira a Rússia. Alguém na reunião perguntou: “E sobre a quinta-coluna na Rússia?”. Respondi prontamente: “Não existe, seus membros foram todos fuzilados”.
2. É alguma coisa extraordinária, quando se começa a pensar sobre isso, que, nessa última invasão nazista, nenhuma palavra tenha aparecido, por trás das linhas russas, sobre o “trabalho interno”. Não houve e não se produziu na Rússia a tão esperada “agressão interna” em colaboração com o Alto Comando Germânico. A marcha de Hitler sobre Praga, em 1939, foi acompanhada pelo apoio militar ativo por parte das organizações de Heinlein na Tchecoslováquia. Da mesma maneira foi invadida a Noruega. Na vida interna da Rússia não houve Heinleins sudetos, Tisos eslovacos, nem Degrelles belgas, nem Quislings noruegueses.
3. Foi em 1936 que Hitler pronunciou em Nuremberg seu famoso discurso sobre suas intenções em relação à Ucrânia. O governo soviético, vê-se agora, já estava, então, sutilmente atento em relação aos planos dos principais militares alemães e de seus chefes políticos, assim como ao “trabalho interno” que vinha se desenvolvendo na Rússia, como preparativo para o futuro ataque germânico.
4. Os acontecimentos tinham sido revelados na tão falada traição ou processos de expurgo de 1937 e 1938, que eu assisti e ouvi. Praticamente todos os estratagemas agora conhecidos da atividade da quinta-coluna alemã foram descobertos e postos a nu pelas confissões e depoimentos extraídos desses processos - pela própria confissão dos que se propunham a ser os “Quislings” russos.
5. Assisti diariamente às sessões do julgamento de Bukharin, por traição. É terrível. Descobrem-se as linhas gerais de um complô que esteve muito perto do êxito, no seu objetivo de provocar a queda do governo. A extraordinária declaração de Krestinsky, Bukharin e dos demais pareciam indicar que os temores do Kremlin eram justificados, por foi agora confirmada a existência de uma conspiração em princípios de novembro de 1936, para dar um golpe de Estado, com Tukhachevsky à frente, em maio do ano seguinte. Porém o governo agiu com grande vigor e rapidez. Os generais do Exército Vermelho foram fuzilados e toda a organização “expurgada” e completamente depurada.
6. A informação revelada por esses julgamentos descobriu a existência de atividades subversivas da quinta-coluna na Rússia, sob a forma de uma conspiração em conivência com os governos do Japão e da Alemanha, de grande extensão. Foi descoberto que vários dignatários de alta posição estavam seriamente infectados pelo vírus da conspiração para derrubar o governo, e trabalhavam com os serviços secretos da Alemanha e do Japão.
7. Os depoimentos desses casos implicaram e inculparam o general Tukhachevsky e muitos altos chefes do exército e da marinha. Sob as ordens de Tukhachevsky, essas pessoas estavam encarregadas de entrar em entendimento com o Alto Comando Alemão para colaborar no ataque contra o Estado Soviético. Numerosas atividades subversivas contra o exército foram reveladas pelos depoimentos. Muitos dos mais altos oficiais do exército foram influenciados ou aconselhados a entrar na conspiração. Conforme os depoimentos, uma total colaboração se estabelecera entre cada ramo do serviço, o grupo revolucionário político, o grupo militar e os Altos Comandos da Alemanha e do Japão.
8. Tais foram as informações trazidas a esse processo, como realmente ocorreram. Não havia dúvida que as autoridades do Kremlin estavam grandemente alarmadas com essas revelações e confissões dos acusados. A rapidez da ação do governo indica que seus membros acreditavam na sua evidência. Agiram para limpar a casa e o fizeram com a maior energia e precisão. Voroschilov, comandante em chefe do Exército Vermelho, disse: “É mais fácil para um ladrão assaltar uma casa se tiver cúmplices lá dentro. Nós nos encarregamos desses cúmplices”.
9. Todos esses processos, expurgos e liquidações, que pareceram tão violentos noutro tempo e escandalizaram o mundo, são agora perfeitamente compreensíveis como parte de um vigoroso e determinado esforço do governo de Stalin para proteger-se não só da revolução interna, como também do ataque externo. Eles se dedicaram inteiramente à tarefa de limpar a nação de todos os elementos desleais, fossem internos ou externos. Todas as dúvidas foram resolvidas favoravelmente ao governo.
10. Não havia quinta-coluna na Rússia em 1941. Eles tinham sido todos fuzilados. O expurgo que limpou o país, livrou-o da traição.
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Trechos extraídos do artigo “O papel chave de Stalin na vitória da Humanidade sobre o nazismo”, de Cláudio Campos, secretário geral do MR8, publicado na Hora do Povo, 25 de junho de 1991
1. Em entrevista para a “Folha de S.Paulo”, publicada no último sábado, Valentin Bereshcov ex-secretário da embaixada soviética em Berlim antes da guerra, e atualmente seguidor do bufão Boris Yeltzin, insiste na velha ladainha de que Stalin não acreditava que a Alemanha invadisse a URSS, não a havia preparado para a guerra, “foi pego de surpresa”...
2. Como já dissemos, a inevitabilidade de um acerto de contas com o imperialismo estava limpidamente clara para Stalin desde o início da década de 30, e, na verdade, antes disso. Por isso mesmo, ele se empenhou em imprimir ao desenvolvimento industrial da URSS o ritmo necessário à sua defesa, o que foi feito, diga-se de passagem, garantindo ao povo soviético a mais formidável melhoria das condições de vida de que se tem notícia na História da Humanidade. Nos primeiros anos dessa década, o empenho central foi na rápida construção de uma poderosa indústria pesada, indispensável à produção militar. Uma vez construída essa base, a produção de armamentos se acelerou vertiginosamente à medida que a guerra se aproximava. Enquanto a média anual da indústria de aviação, em 1930-31, era de 860 aviões, em 1935-37 ela se elevou a 3.578, e, de 1939 a julho de 1941, tempo ganho com o Tratado de Não-Agressão assinado com a Alemanha, foram construídos 17.745 (!) aviões de combate. De 1932 a 1937, a fundição de laminados de alta qualidade e especiais, indispensáveis à indústria bélica, aumentou de 24 vezes - 5.900 para 140.000 toneladas. No período ganho com o Tratado de Não-Agressão, a preparação militar se intensificou de maneira febril. O orçamento militar, que era de 17.500 milhões de rublos, em 1937, passou para 56.900 milhões em 1940. Praticamente todos os armamentos mais modernos, que surpreenderam os alemães no campo de batalha, superiores aos deles e, em geral, a quaisquer outros, tiveram seu projeto concluído e a produção iniciada nesse período...
3. Por outro lado, é sabido que a negociação que reincorporou à URSS a parte ocidental da Ucrânia, então em poder da Polônia, a ocupação de parte da Finlândia, devolvida depois da guerra, e a integração das repúblicas bálticas à União Soviética, por decisão soberana e imperativo de sobrevivência desses países, visou exatamente, da parte dos soviéticos, afastar para Oeste e garantir as suas fronteiras contra os alemães, em especial a estratégica base naval de Leningrado até então inteiramente exposta à artilharia nazista.
4. No final de 1940, a guerra de Hitler contra a Inglaterra se complicou. A resistência inglesa foi maior do que ele esperava. Era nítido que ele hesitava entre insistir nessa ofensiva e interrompê-la e atacar noutra direção, agora contra a URSS. Foi o período mais delicado do jogo político na guerra. Os ingleses, evidentemente, estavam interessados no surgimento de conflitos na fronteira soviético-alemã, e bombardeavam a URSS com sucessivas “informações” sobre a iminente invasão nazista. Stalin, por seu lado, dentro do que era possível, tinha que evitar tomar qualquer atitude que precipitasse a decisão de Hitler... Ele não podia e não devia dar mostras de intranqüilidade em relação às intenções dos alemães, facilitar a tomada de decisão destes, e, além disso, ampliar o já enorme espaço político internacional que desfrutavam, permitindo-lhes alegar que haviam sido atacados, ou que estavam na iminência de o serem. Se Valentin Bereshcov e a imprensa burguesa até hoje não entenderam o correto jogo político de Stalin, Hitler não demorou assim tanto tempo para percebê-lo.
5. Em relação aos informes que davam conta de um possível ataque naquele dia, o comando soviético tomou exatamente as medidas que devia tomar: uma circular alertou as tropas em toda a linha de fronteira sobre essa possibilidade, ao mesmo tempo que recomendava também atenção para evitar confundir uma não descartável ação de provocação com um ataque em massa efetivamente decidido pelo alto comando alemão. É significativo que Bereshcov ao mesmo tempo que se entrega às suas disparatadas elocubrações sobre a falta de informações seguras a respeito do momento da invasão, reconheça que ele e todo o corpo diplomático soviético em Berlim, apesar de servirem na toca do lobo e terem enviados dados a respeito do dia do ataque, também não estavam seguros sobre esses dados, porque, como explicou, várias outras datas, desde abril, haviam sido colhidas e enviadas a Moscou, sem que tivessem se confirmado.
6. Confirmada a invasão, Stalin não perdeu tempo em espernear e se concentrou no comando da resistência. A esse respeito, o Marechal Zhukov forneceu um significativo testemunho, em carta assinada de março de 1964, publicada no semanário Novidades de Moscou, em maio de 1988. Respondendo a perguntas formuladas por diversos escritores, que pelo visto não se interessaram em divulgar na época as respostas obtidas, Zhukov lembra que nas primeiras duas semanas após a invasão Stalin assumiu todo o comando de fato das operações de defesa, embora o comandante em chefe, do ponto de vista formal, fosse o General Timoshenko. Zhukov notou que isso gerava uma perigosa e tensa superposição de atribuições, e, no dia 9 de julho, falou com vários membros do Burô Político que era necessário superar essa contradição, fazendo com que Stalin fosse não só o comandante de fato, mas também o “comandante de jure”. No dia 10 de julho, “nos chamaram ao Comitê Estatal de Defesa e nos informaram da decisão de criar o Quartel General do Comandante em Chefe, sendo designado Stalin para o cargo de “Comandante em Chefe”. Caso ainda houvesse necessidade de um desmentido claro como este, tal testemunho de Zhukov enterrou de vez a capciosa versão posta a circular por Kruschev durante o seu relatório dito secreto ao XX Congresso do PCUS, quando dera a entender que a investidura promovida pelo Burô Político se dera porque Stalin estava abatido e inoperante, e ele, o grande e intimorato Kruschev, lá havia ido chamar o chefe às falas e ao dever... Evidentemente, a contra-revolução mundial não pensou duas vezes, aliás, nem uma só, antes de encampar e dar ampla difusão à versão de Kruschev

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