segunda-feira, 3 de agosto de 2009


Stálin durante a guerra

"Debrucemo-nos por um instante sobre o papel desempenhado por Stalin no curso da guerra civil."


Stalin durante a guerra civil Debrucemo-nos por um instante sobre o papel desempenhado por Stalin no curso da guerra civil. Numerosas publicações burguesas colocam Trotsky, o “criador e organizador do Exército Vermelho”, em pé de igualdade com Lenin, como os dois artesãos da vitória militar dos bolcheviques. A contribuição de Stalin no combate contra os exércitos brancos é mais frequentemente negligenciada. Contudo, nos anos 1918-1920, Stalin dirigiu pessoalmente o combate militar em várias frentes decisivas. A intervenção de Zinoviev, de Kamenev ou de Bukharin foi nula no domínio militar. Em novembro de 1917, quando o Comitê Central havia criado um Comitê restrito para os assuntos urgentes composta por Lenin, Stalin, Svedlov e Trotsky, Pstovski, o adjunto de Stalin, escreveu: “No curso da jornada, Lenin chamou Stalin numerosas vezes. Stalin passou a maior parte do dia com Lenin”. Durante as negociações de paz com a Alemanha, em dezembro de 1917, Lenin e Stalin, com o objetivo de salvar custasse o que custasse o poder soviético, insistiram em aceitar as condições humilhantes impostas pelos alemães. Eles estimavam que o exército russo estava, de qualquer modo, incapaz de combater. Bukharin e Trotsky quiseram recusar as condições e declarar a “guerra revolucionária”. Para Lenin, isso seria submeter-se à burguesia, que pregava um ultranacionalismo, com o objetivo de fazer sucumbir o poder bolchevique. Quando das negociações com os alemães, Trotsky declarou: “Nós nos retiraremos da guerra, mas nos recusamos a assinar o acordo de paz”. Stalin afirmava que não havia sinais de uma revolução iminente na Alemanha e que o gesto espetacular de Trotsky não era político. Os alemães retomaram efetivamente a ofensiva e os bolcheviques foram então obrigados a assinar condições de paz ainda mais negativas. Nesse assunto, o partido tinha se aproximado da catástrofe”. Em janeiro de 1918, o general czarista Alexeiev leva um exécito de voluntários à Ucrânia para “garantir sua independência”. Em maio de 1918, 30 mil soldados tchecoslovacos ocuparam uma grande parte da Sibéria. Durante o verão, sob o impulso de Winston Churchill, a Inglaterra, a França, os Estados Unidos, a Itália, o Japão intervieram militarmente contra os bolcheviques. Depois de março de 1918, Trotsky era comissário do povo para a defesa. Sua tarefa era formar um novo exécito de operários e camponeses, dirigidos por 40 mil oficiais do antigo exército czarista. Em julho de 1918, o Cáucaso do Norte, única região cerealista importante nas mãos dos bolcheviques, foi ameaçado pelo exército de Kraskov. Stalin foi enviado a Tsaritsyne, a futura Stalingrado, para assegurar a entrega dos cereais. Ele encontrou ali um caos geral. “Por mim, sem formalidades, eu expulsaria estes comandantes do Exército e estes comissários que estão arruinando a situação”, escreveu ele a Lenin, reivindicando autoridade militar sobre a região. A 19 de julho, Stalin foi nomeado presidente do Conselho de Guerra da Frente Sul. Posteriormente, Stalin entraria em conflito com o antigo general de artilharia czarista Sytin, que Trotsky nomeara comandante da Frente Sul, e com o comandante-chefe, o antigo coronel czarista Vatsetis. Tsaritsyne foi defendida com sucesso. Lenin considerou as medidas tomadas por Stalin em Tsaritsyne como um modelo a seguir. Em outubro de 1918, Stalin foi nomeado para o Conselho Militar da Ucrânia, que recebera por tarefa derrubar o regime de Sporopadsky, instalado pelos alemães. Em dezembro, a situação deteriorou-se gravemente nos Urais, por causa do avanço das tropas reacionárias de Koltchak. Stalin foi enviado com plenos poderes para pôr fim ao estado catastrófico do Terceiro Exército e para expulsar os comissários incapazes. Em sua investigação no local, Stalin criticou a posição de Trotsky e de Vatsetis. No oitavo Congresso em março de 1919, Trotsky foi criticado por numerosos delegados por suas atitudes “ditatoriais”, por sua “adoração pelos especialista militares” e suas “torrentes de telegramas malconcebidos”. Em maio de 1919, Stalin foi de novo enviado com plenos poderes para organizar a defesa de Petrogrado contra o exército de Iudenitch. A 4 de junho Stalin envia um telegrama a Lenin, afirmando, à base de documentação apreendida, que numerosos oficiais superiores do Exército Vermelho trabalhavam secretamente para os exércitos brancos. Na frente do leste um grave conflito eclode entre seu comandante, s. Kamenev, e o comandante-chefe, Vatsetis. O Comitê Central sustenta finalmente o primeiro, mas Trotsky o demite, o que foi recusado. Vatsetis foi preso para averiguação. Em agosto de 1919, o exército branco de Dénikine ganha terreno perto do Rio Don, na Ucrânia e na Rússia do Sul, progredindo em direção a Moscou. De outubro de 1919 a março de 1920, Stalin dirigiu a Frente Sul e derrotou Dénikine. Em maio de 1920, Stalin foi enviado para a frente do sudoeste, onde os exércitos poloneses ameaçavam a cidade de Lvov, na Ucrânia, e as tropas de Wrangel, a Criméia. Os polonese tinham ocupado uma grande parte da Ucrânia, inclusive Kiev. Na frente ocidental, Tukatchevski contra-ataca, repele as agressões e persegue o inimigo até perto de Varsóvia. Lenin esperava ganhar a guerra contra a Polônia reacionária e um governo soviético polonês provisório foi formado. Stalin colocou-se contra esta operação: “Os conflitos de classe não têm ainda a força para quebrar o sentido da unidade nacional polonessa”. Malcoordenadas, recebendo ordens contraditórias, as tropas de Tukhatchevsky sofreram contra-ataque polonês sobre seu flanco não protegido e foram derrotadas. Ao mesmo tempo, Stalin deveria concentrar o grosso de suas forças contra Wrangel, que tinha ocupado os territórios ao norte do mar de Azov e ameaçava fazer a fusão com os anticomunistas do Don. Os exércitos brancos de Wrangel foram liquidados antes do final de 1920. Em novembro de 1919, Stalin e Trotsky receberam, por suas proezas militares, a Ordem da Bandeira Vermelha, uma distinção recentemente criada. Lenin e o Comitê Central estimavam que os méritos de Stalin, na direção da luta armada nos lugares mais difíceis, igualavam-se àqueles de Trotsky, que tinha organizado o Exército Vermelho no nível central. Mas para melhor destacar sua própria grandeza, Trotsky escreveu: “Durante toda a duração da guerra civil, Stalin permaneceu uma figura de terceira ordem”. Em dezembro de 1919, Trtsky tinha proposto “a militarização da vida econômica” e queria aplicar à mobilização dos trabalhadores os métodos que ele tinha utilizado para dirigir o Exército. Nesta ótica, os ferroviários tinham de ser mobilizados sob a disciplina militar. Uma onda de protesto atravessou o movimento sindical. Lenin declarou que Trotsky havia cometido erros que colocavam em perigo a ditadura do proletariado: por seus incômodos burocráticos a respeito dos sindicatos, arriscou destruir o partido das massas operárias. O individualismo excessivo de Trotsky, seu desprezo ostensivo para com todos os quadros bolcheviques, seu estilo de direção autoritária e seu gosto pela disciplina militar assustavam muitos quadros do partido. Estimava-se que Trotsky poderia bem desempenhar o papel de um Napoleão Bonaparte, executar um golpe de Estado e instaurar um regime autoritário contra-revolucionário.

Ludo Martens

Nenhum comentário:

Postar um comentário